Por Roberto Almeida: Com poucos mais de 40 anos de idade,
Júnior Almeida lançou seu primeiro livro, “A Volta do Rei do Cangaço”, uma
ficção com um toque de Quentin Tarantino, pois mostra Virgulino vivo nos
tempos atuais, como vítima de uma espécie de maldição que o torna imortal e não
o deixa envelhecer. “Tarantino mudou a história matando Hitler num atentado,
por que não posso ressuscitar Lampião?”, explicou Júnior, ao comentar o
romance, que teve boa acolhida na região e em outras partes do país,
principalmente pelos intelectuais apaixonados pelo inesgotável tema do cangaço.
Agora, o escritor volta ao tema, mas desta
vez deixa de lado a ficção e nos apresenta um trabalho de uma minuciosa
pesquisa de campo, livros, jornais antigos e documentários, mostrando como o
cangaço esteve presente em algumas cidades do Agreste Meridional, na primeira
metade do Século XX. O livro registra as ligações de coiteiros, volantes e
cangaceiros com o Agreste Meridional, nas cidades de Águas Belas, Garanhuns,
Angelim, Capoeiras, São Bento do Una, Caetés, Canhotinho e Paranatama, e a
passagem de Lampião e outros bandoleiros por algumas delas. Na sua pesquisa,
Júnior descobriu fatos relacionados com os “fora da lei do Sertão”, nunca antes
revelados e o que são agora, neste livro que representa uma contribuição para a
História do Cangaço, do Agreste, de Pernambuco e do Brasil.
Um dos personagens que chama a atenção, no
trabalho, é José Caetano, um dos maiores nomes no combate ao cangaço, militar
que lutou contra as forças de Antônio Silvino, Sinhô Pereira e Lampião. O
destemido volante morou em várias cidades de Pernambuco e terminou a vida em
Angelim, a pouco mais de 20 km de Garanhuns, onde está sepultado. Dona Branca,
de Paranatama, que viveu até os 103 anos de idade, foi entrevistada mais de uma
vez pelo autor do livro e passou informações bem interessantes da passagem de
Lampião por Paranatama, alguns anos antes do bandido ser assassinado pelas
forças volantes, em 1938.
Capitão Virgulino Ferreira passou uma das
maiores humilhações de sua vida no ataque a Paranatama, que à época se chamava
Serrinha: sua companheira, Maria Bonita, levou um tiro na bunda e os
cangaceiros tiveram de fugir as pressas, levando a mulher nos braços. Lampião
saiu cheio de ódio a Serrinha e prometeu voltar um dia para incendiar a vila e
matar todo mundo que morava no lugar. Tudo isso e muito mais, num estilo seco,
objetivo, você vai encontrar em “Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no
Agreste de Pernambuco”.
Vale a pena a leitura pelas informações
inéditas, por esse novo olhar no fenômeno do cangaço e pela identificação do
autor com a realidade de uma parte do Agreste de Pernambuco. Júnior se
interessou por História e está fazendo História, com seus livros que falam de
bandoleiros conhecidos, que retratam a luta das forças do governo contra os
pistoleiros da primeira metade do século passado, com violências praticadas
pelos dois lados e o povo pobre sofrendo, vítima dos cangaceiros, dos coronéis
do Agreste e Sertão, do próprio Governo, que ontem, como hoje, tende a servir
aos poderosos.
*Fotos:
1-Convite do FIG; 2-Capa do livro; 3-Autor
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