Por Carlos Sena (Sociólogo, Poeta e Cronista): Em Bom Conselho, minha terra, tive oportunidade de morar em vários endereços. Lembro bem da Avenida (onde hoje fica o Grupo Escolar Mestre Laurindo Seabra), onde cursei o então “primário”. Depois moramos na Rua Siqueira Campos, rua do Caborge, Alto de Santo Antônio e na rua onde hoje mora a vereadora Léa. Finalmente retornamos a residir na Rua Siqueira Campos, mas não lembro o número. Hoje, essa casa está, literalmente, sem número. Sem número? Sim! Por um motivo simples: o casarão que acalentou grande parte das minhas memórias de infância/adolescência, está no chão. Virou terra batida!
Nessa casa morou Dina Salu, sua Filha Aldeci e os filhos dela. Mudaram-se pra recife e então é que mamãe alugou e lá fomos morar. Casarão imenso! Se fosse no Recife talvez não houvessem destruído. Por um motivo simples: sua arquitetura neoclássica (salvo engano) era pujante. Todos que iam estudar no estadual, no Colégio, no Mestre Laurindo e no São Geraldo passavam por lá. Ficava no pé da ponte olhando de frente pra casa de Seu Cazuza (de saudosa memória).
Outro dia quando lá estive fiquei “vendo” aquela casa linda de pé, mas só na imaginação. Só existe hoje o chão batido servindo de espaço para criação de galinhas. Foi nessa hora que recuperei meus sonhos ali tecidos qual bordadeira ornando ilusões ali nascidas e dissipadas ao vento. Por vezes cheguei a imaginar mamãe na sua máquina de costura, bem como sua criação de porcos no vasto quintal. O quintal enorme cheio de árvores frutíferas, notadamente mangas e goiabas.
Saí de lá meio macambúzio. Porque um “chão batido” houvera me batido violentamente na lembrança. Um “filme” lindo compactado de “passado” me havia tomado por inteiro. O que sempre nos salva é a lógica prática da vida em que “nada é eterno” e tudo passa, até a “uva passa”… Contudo, independente da lógica ortodoxa do existir há certas coisas como a saudade que não nos desvinculam da realidade.
Hoje, no lugar das nossas brincadeiras, um chão batido; ao invés de sonhos, um chão batido; ao invés de uma bela arquitetura, um chão batido… é o que melhor define aquela casa que abrigou com felicidade toda nossa família numerosa. Resta-nos perguntar: quem bateu aquele chão? Por que os políticos locais não intervieram naquela construção neoclássica tão pujante?
Como as respostas não interferem mais no fato, restam-me o registro simplório desta CRONICA, não obstante o peito partido tal qual o chão batido em que transformaram aquela casa com todas as emoções nela contidas. Sobra a memória e a certeza de que “vão-se os anéis e ficam os dedos”… Mas, como diria Rona Rozena dos meus tempos: “pra que peste eu quero dedos sem anéis?”
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