sábado, 5 de julho de 2025

Adversários, não inimigos: a política como espaço da convivência democrática.

Na política, como na vida, há disputas, divergências e embates. Mas há também – e precisa haver – convivência, respeito e civilidade. Infelizmente, ainda vivemos tempos em que muitos confundem adversário com inimigo. Uma confusão perigosa, que envenena o debate público e empobrece a democracia.

É preciso dizer com todas as letras: na política, ninguém é inimigo pessoal. São apenas adversários políticos. Pensam diferente, agem diferente, têm propostas distintas para o mesmo problema. E está tudo bem. Isso é o que dá sentido à democracia: a pluralidade de vozes, a disputa de ideias, o confronto respeitoso.

Um exemplo emblemático dessa maturidade política pôde ser visto esta semana em Bom Conselho. Um registro fotográfico que circulou nas redes sociais mostrou um momento de confraternização entre os vereadores da oposição e um vereador da base do governo. De um lado, Clebson Quaresma, aliado ferrenho do prefeito Dr. Edézio Ferreira. Do outro, os opositores Alanzinho da Barra, Zé Nilson da Lagoa e Gilmar da Lagoa Grande - o mais aguerrido oposicionista, além do advogado Dr. Renato Curvelo, que foi candidato a vice-prefeito em 2012.

O que se viu ali foi mais do que uma mesa de conversa. Foi um gesto simbólico, um recado silencioso, mas potente: é possível divergir sem se odiar. É possível defender posições opostas sem anular a humanidade do outro. É possível rir juntos, trocar ideias, lembrar histórias – mesmo depois de ter estado em lados opostos de um palanque.

A política é esse palco plural. É o microfone do plenário, é o palanque na rua, é a urna que decide. Mas, passada a eleição, desarmados os palanques, a convivência precisa prevalecer. Governar é construir pontes, não cavar trincheiras. Só quem não entendeu isso é que ainda carrega nos olhos a raiva da campanha passada.

O mais preocupante é que esse pensamento rancoroso – retrógrado, mesquinho, troglodita, diga-se – ainda resiste em setores do próprio governo atual. Gente que acredita que quem um dia esteve ao lado de outro projeto político deve ser tratado como um inimigo declarado. Um erro grave. Política não é guerra, não é vendeta, não é tribunal de inquisição. Não existe isso de “esse aí tem a cara do governo anterior, não pode estar aqui”.

Isso é pensar pequeno. Isso é jogar contra o próprio governo, que precisa de união, diálogo e inteligência para enfrentar os desafios de uma gestão municipal.

“Cara feia para quem antes sorria” é de uma inutilidade sem tamanho. Não constrói, não agrega, não serve ao povo – que, afinal, é quem mais precisa de maturidade política para ver seus problemas resolvidos.

Que o exemplo dos vereadores de Bom Conselho sirva de lição. A política não pode ser um campo de batalha permanente. Ela precisa ser um espaço de encontros, de reencontros, de construção. Que as amizades sobrevivam às campanhas. Que o respeito resista às diferenças. Que o bom senso triunfe sobre o radicalismo.

Afinal, o que vale – e sempre valerá – é a democracia. E nela, adversários se enfrentam nas ideias. Inimigos, só os da intolerância e da ignorância. Esses, sim, precisam ser derrotados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário