Um vídeo divulgado nas redes sociais da Prefeitura de Teresinha tem causado mais do que burburinho. Ele provoca reflexões incômodas, dessas que cutucam onde não se gosta de ser tocado. No centro da polêmica está a fala do prefeito Arnóbio Gomes, que, com um tom de quem entrega uma conquista heroica, diz que o seu governo iniciou "organizando o município, a administração". Que "organizar a casa era prioridade". Que a atual gestão tem feito isso "com competência e agilidade". Ora, prefeito, que casa desorganizada era essa? Que bagunça foi herdada? E, principalmente, de quem?
É aí que mora o nó da questão. Arnóbio não caiu de paraquedas na Prefeitura. Não chegou de fora, nem veio na aba de um cometa iluminado. Foi eleito com o apoio do grupo político que governava Teresinha até o apagar das luzes de 2024. Foi apadrinhado, fez campanha colado nos feitos – ou supostos feitos – da gestão anterior. Agora, no poder, fala como se estivesse governando uma cidade saqueada por bárbaros. Fica difícil não enxergar contradição nessa narrativa.
E o mais intrigante vem na sequência do vídeo, com o secretário de Administração, Amílcar Mendes, vestindo a camisa do "novo tempo". Segundo ele, nestes primeiros cem dias de gestão, foi feito um verdadeiro choque de gestão: reorganização do RH, reformulação de contratos, corte de gastos desnecessários e, com a economia gerada, pagamento rigorosamente em dia dos servidores – efetivos, contratados e até aposentados. Palmas para a eficiência, mas... e antes? Estavam atrasando salários? A máquina era inchada? Os contratos, desleixados? Fica subentendido – ou melhor, escancarado – que o governo anterior, do qual Arnóbio foi fiel escudeiro, era um trem descarrilhado.
A pergunta que se impõe é: se o prefeito foi eleito como herdeiro político da gestão passada, por que agora renega esse passado? Teria usado o grupo como trampolim eleitoral, apenas para alcançar o topo e depois cuspir no prato onde comeu? É um enredo típico da velha política travestida de renovação. Um jogo de empurra onde, no fundo, ninguém quer assumir os próprios compromissos.
A população, atenta, assiste de camarote. Porque uma coisa é fazer política com discursos empolgados. Outra bem diferente é achar que o povo não percebe as entrelinhas. E neste caso, as entrelinhas gritam. E, a memória do eleitor pode até ser curta, mas não é amnésica. Muito estranho esse vídeo, muito estranho mesmo. Como diria uma velha frase atribuída a Santo Agostinho: "quem muito se justifica, confessa".
Confira, abaixo, o vídeo divulgado pela Prefeitura de Terezinha:

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