O domingo, 21 de setembro, amanheceu em Bom Conselho com ares de tensão. A notícia que corria de boca em boca dava conta de que a Agência da Caixa Econômica Federal teria sido alvo de uma tentativa de assalto. Polícia Militar acionada, Polícia Federal mobilizada – afinal, trata-se de uma instituição federal – e a cidade inteira em alerta. A imaginação popular, fértil como sempre, já colocava em cena homens armados surrupiando com estratégias dignas de cinema.
Mas o enredo seguiu por outro caminho. Ao longo do dia, as informações colhidas e o cenário encontrado começaram a desmontar o “roteiro de filme de ação” que muitos comentavam nas calçadas e redes sociais. A tal invasão não passava da atitude desesperada de um único indivíduo, sozinho, que vem enfrentando graves problemas psicológicos. A cena que se descortinou foi, ao mesmo tempo, trágica e cômica. Ferramentas improvisadas – um serrotezinho, um alicate e um martelo, entre outros – que dariam, quando muito, para arrombar um guarda-roupa ou a porta de uma casa velha, foram os “equipamentos” utilizados na empreitada. Nada que lembrasse a imagem cinematográfica de um grande assalto.
O episódio, que se desdobrou até a noite da segunda-feira, 22, quando o rapaz foi encontrado escondido no forro da própria agência e resgatado pelos Bombeiros, deixou mais perguntas do que respostas. Afinal, o que leva alguém, aparentemente comum, a romper com a lógica do cotidiano e se lançar em uma aventura tão irracional e descabida?
O caso, com toda a dose de surrealismo que carrega, escancara um tema cada vez mais urgente: a saúde mental. Não se trata apenas de números frios ou campanhas de calendário, como o Janeiro Branco e até mesmo o Setembro Amarelo que estamos vivenciando. Trata-se de reconhecer que o sofrimento psicológico não escolhe idade, classe social ou endereço. Ele pode estar ao lado de cada um de nós, silencioso, latente, até que um gatilho qualquer dispare um surto, uma fuga, ou uma atitude desesperada.
Se para muitos o episódio serviu como piada de esquina, para a cidade deveria servir como alerta. O riso fácil não pode esconder a gravidade da questão. Estamos diante de um sintoma social, de uma pressão que corrói lentamente as pessoas, empurrando-as para atos impensáveis. Hoje foi uma tentativa atrapalhada de invasão a uma agência bancária; amanhã pode ser algo mais sério, com consequências irreversíveis.
O saldo dessa história, portanto, não deve ser apenas o anedótico. Fica a necessidade de refletir sobre o quanto Bom Conselho – e o Brasil como um todo – tem oferecido espaço para discutir, acolher e tratar os problemas ligados à mente humana. Se a saúde física já enfrenta gargalos imensos, a saúde mental, muitas vezes invisível, segue relegada a segundo plano.
O episódio da Caixa, entre o riso e o espanto, é um convite para olharmos de frente para uma realidade que insiste em bater à nossa porta: a de que cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar do corpo. E ignorar isso pode transformar dramas individuais em cenas públicas, tragicômicas, como a que ocupou as manchetes e as conversas do nosso último domingo.

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