Em Bom Conselho uma cena tem se repetido com frequência e se agravado nos últimos tempos: cachorros soltos pelas ruas, em bando, dominando praças, calçadas e, principalmente, a paciência dos moradores. O problema, antigo e conhecido, ganhou contornos alarmantes de meados de junho para cá, quando passou a se tornar impossível não notá-lo – ou ser diretamente impactado por ele.
Trata-se de uma verdadeira epidemia de abandono, que não apenas escancara uma grave questão de saúde pública, mas também reflete, como um espelho, o descaso administrativo, a falta de empatia da sociedade e o colapso de políticas públicas que deveriam dar conta do básico.
Quem caminha pelas principais vias da cidade – como o centro e bairros de maior circulação – se depara com cenas constrangedoras e perigosas: cachorros avançando em motos, assustando pedestres, circulando entre carros, revirando sacos de lixo em busca de comida e, muitas vezes, adoecidos, magros, vítimas da própria invisibilidade. O risco de acidentes é diário. O incômodo, constante. O abandono, institucionalizado.
É legítima, justa e urgente a cobrança da população por uma resposta concreta do poder público. A pergunta que paira no ar, entre um latido e outro, é: onde está o órgão responsável? Qual plano o município tem – se é que tem – para lidar com esse problema, que não é só de agora, mas que atingiu um nível insustentável? O silêncio da gestão municipal ecoa mais alto do que qualquer uivo noturno. Nenhuma nota, nenhum plano, nenhuma movimentação oficial. Apenas o barulho abafado de um problema que muitos fingem não ouvir.
Mas a crítica não pode parar por aí. É necessário também um exercício de autocrítica por parte da população. Afinal, os animais não brotaram nas ruas por geração espontânea. Muitos foram abandonados por famílias que, um dia, os trataram como parte do lar e, depois, descartaram como se fossem entulho. Outros nasceram do descuido com a castração, da falta de políticas de controle populacional, da ausência de campanhas de conscientização que envolvam escolas, igrejas, associações de bairro.
Não é só um problema de cachorro na rua. É uma cidade inteira olhando para o outro lado. É um retrato da falta de planejamento, da indiferença e da omissão que nos acostumamos a aceitar como parte da paisagem urbana. E é preciso romper com isso.
Bom Conselho precisa urgentemente de um plano municipal de manejo populacional de cães, com ações contínuas de castração, abrigo temporário, adoção responsável e campanhas de conscientização. E, mais do que tudo, precisa de vontade política. Não se trata de luxo ou capricho. É questão de saúde, de dignidade humana e animal, de imagem pública e de compromisso com a cidade.
Ignorar esse problema é naturalizar a barbárie. E não podemos, em pleno 2025, aceitar que o abandono animal continue sendo tratado como se não fosse responsabilidade de ninguém. Porque é responsabilidade de todos.
E como diria um velho provérbio africano: “o destino de uma comunidade se revela pela forma como trata seus animais”. Bom Conselho, é hora de ouvir o que isso quer dizer.

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