A cidade de Bom Conselho, acostumada ao seu ritmo interiorano de tranquilidade e cordialidade, viu nesta semana sua paz ser sacudida por um episódio tão barulhento quanto desnecessário. As críticas do vereador Gilmar Soldado dirigidas pelas redes sociais aos editores da página no Instagram Bom Conselho em Foco – Paulo Dantas e Paulo Filho - tomou proporções que extrapolaram o limite do aceitável no convívio democrático.
Tudo começou após uma reunião extraordinária da Câmara de Vereadores, na manhã da última segunda-feira (07), convocada para discutir um projeto de interesse da Guarda Municipal. A pauta, que já era sensível por si só, acabou dando lugar a uma polêmica ainda maior: a reação do vereador Gilmar Soldado a uma matéria publicada pela referida página fazendo um resumo do ocorrido na reunião, que, ao seu ver, não condizia com a realidade dos fatos. A crítica à publicação, no entanto, ultrapassou o campo do contraditório. Gilmar não apenas discordou — ele fez declarações duras contra os editores da página e, por consequência, contra o próprio direito de imprensa. Usou as redes sociais para verbalmente agredir os editores e desqualificar o trabalho jornalístico da página.
As palavras proferidas pelo parlamentar, de forma voraz e, segundo muitos, grosseira, ecoaram nos quatro cantos do município. E não é para menos: estamos falando de um representante do povo que, ao invés de contestar com argumentos, escolheu o caminho da ofensa verbal.
O gesto causou perplexidade. Gilmar Soldado, vereador de quatro mandatos, figura conhecida por seu perfil firme e discurso aguerrido — traços herdados da carreira militar — sempre foi também reconhecido pelo equilíbrio em momentos tensos. Mas dessa vez, parece ter deixado o bom senso em segundo plano. E isso, vindo de alguém com bagagem e experiência, assusta.
Mais do que uma página, Bom Conselho em Foco representa hoje uma das vozes da imprensa local. E quando se ataca uma voz, ataca-se o coral inteiro. A liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia. Se um veículo comete excessos ou se interpreta mal os fatos, que se conteste com fatos, com argumentos, com direito de resposta. Jamais com ofensas.
É preciso lembrar: a imprensa não existe para agradar. Existe para informar. A crítica é inerente ao processo democrático. Um mandato, por mais legítimo que seja, não está acima do contraditório. O homem público que não tolera ser criticado precisa repensar sua vocação. E o cidadão que não aceita ler opiniões divergentes, precisa rever o conceito de liberdade.
Vivemos tempos em que o diálogo deve prevalecer. Bom Conselho é, antes de tudo, uma cidade de gente de bem. Não se pode permitir que episódios como esse lancem divisões onde deveria haver convivência. É hora de baixar as armas, verbais inclusive, e levantar as mãos para o entendimento.
Talvez o momento seja esse: de escuta, de reflexão, de olhar o outro lado sem pré-julgamentos. A imprensa não é inimiga. É espelho. Nem sempre mostra o que se quer ver, mas revela o que precisa ser visto.
O melhor desfecho possível agora é o entendimento. Que as partes envolvidas tenham maturidade para dialogar, esclarecer, pedir desculpas — se necessário — e seguir em frente. O que nos une, enquanto comunidade, é infinitamente maior do que qualquer desentendimento passageiro.
Afinal, como diria o velho ditado, “é conversando que a gente se entende”. E em tempos de intolerância, conversar é um ato revolucionário.
Ao vereador Gilmar, cabe agora a oportunidade de usar sua trajetória para reconstruir pontes. Aos editores do Bom Conselho em Foco, o desafio de continuar informando com responsabilidade e equilíbrio. E a todos nós, cidadãos da Terra de Papacaça, a missão de manter viva a chama da civilidade.
Porque a democracia não grita. Ela argumenta.

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